Na obra de Andrea Büttner (Estugarda, Alemanha, 1972), a História da Arte e a Filosofia Estética surgem relacionadas com questões do foro ético e social, particularmente os temas da vergonha, da pobreza, da religião católica e do trabalho. Apesar de abranger uma diversidade de meios, desde escultura e pintura até vídeo e instalação, a sua prática caracteriza-se pelo uso de técnicas manuais outrora subestimadas, a partir das quais a artista suscita reflexões críticas acerca dos sistemas de valorização do artesanato e da sua relação com a esfera íntima e doméstica.

Ainda que o seu trabalho seja desenvolvido a partir de códigos formais abstratos, o corpo revela-se um elemento omnipresente — o qual pode ser percebido através da mão da artista na criação de obras de fazer manuais; da sintética abstração de figuras humanas, como na série de xilogravuras Beggars; ou do trivial movimento dos dedos por cima da tela de um aparelho telemóvel, como em Phone Etchings. Em muitas instâncias, Andrea Büttner apresenta o corpo enquanto um recetáculo através do qual as temáticas do seu trabalho se inter-relacionam.

Little Works, 2007

Vídeo, cor, som, 10’42”

Cortesia da artista.

Em Little Works (2007), são apresentados vislumbres sobre o quotidiano de uma ordem fechada de freiras carmelitas, habitantes do convento The Most Holy Trinity, em Notting Hill, Londres. Impossibilitada de aceder ao espaço, Andrea Büttner realiza o filme a partir de uma câmara entregue a uma das irmãs da ordem, que regista conversas e momentos de criação daquilo que denominam «pequenos trabalhos» — objetos de artesanato confecionados manualmente pelas irmãs durante o tempo de lazer.

Dentro do microcosmo dessa ordem secular religiosa, a relação entre trabalho e produtividade assume contornos menos rígidos, revelando o seu carácter profundamente contemplativo e libertador. Ao ser apresentada no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, a obra adquire um sentido universal, transpondo barreiras geográficas e temporais.