Castiel

Vitorino Brasileiro

Castiel Vitorino Brasileiro

Brasil, 1996

Artista, escritora e psicóloga clínica, Castiel Vitorino Brasileiro (Vitória, Brasil, 1996) procura, por meio do seu trabalho, desconstruir a mitologia racial que segrega e subjuga corpos e delineia hierarquias de classe e raça desde as sociedades coloniais. Através de uma prática artística interdisciplinar e influenciada pelo seu percurso na Psicologia, desenvolve uma obra que concilia performance, fotografia, vídeo, escrita e instalação para produzir novos sistemas de linguagem.

A sua autobiografia, extravasada para as histórias dos seus familiares, a convocação da memória coletiva e da alma, os rituais de cura, as culturas afrodescendentes e as religiões de matriz africana servem, ao mesmo tempo, de ponto de origem e de matéria para a criação do seu trabalho. Na confluência desses elementos, a artista exercita uma cosmovisão que percorre a ideia de transmutação e de trânsito entre a vida e a morte enquanto práticas libertárias. Desafiando os binarismos impelidos aos povos dos territórios Ameríndios pela colonização europeia, Castiel Vitorino Brasileiro exercita novas visões de mundo.


Corpo-flor, 2016–presente

Fotografias, impressão a jato de tinta sobre papel Hahnemühle Photo Luster 260 g

Cortesia do artista e galeria Mendes Wood DM.

Transfigurar e transmutar são gestos que se aproximam dentro do trabalho de Castiel Vitorino Brasileiro como estratégias de resistência à violência da racialização. Em Corpo-flor, a fotografia testemunha rituais que propõem um «hibridismo radical com vidas de outros reinos e mundos» enquanto prática de comunhão e autoconhecimento. Iniciada, em 2016, em ritos solitários que acompanharam períodos de «absurda solidão» da artista, marcados pela vivência na cidade de Vitória (Brasil) e pela transição de género, a série acompanhou as suas angústias e, ao longo do tempo, expandiu-se através do encontro com outras vidas e pessoas que passaram a compor a ontologia Corpo-flor — transformando o termo numa nomenclatura que designa uma espécie, não um indivíduo.

Nesta bienal, uma seleção de imagens que integram a série é apresentada numa das salas intermediárias do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. A arquitetura do espaço possibilita que as fotografias surpreendam o espectador que o adentra, pairando «sobre» as paredes como presenças indecifráveis. Apontando para um passado que se repercute através de violências do presente, Castiel Vitorino vem para relembrar que «a transfiguração é a única certeza», «a mais poderosa verdade», pois só ela «possui o poder de encerrar a história da racialização nas nossas vidas».

Castiel gallery image

© Jorge das Neves

Castiel Vitorino Brasileiro vive entre Vitória e São Paulo. O seu trabalho já foi exposto em diferentes instituições e bienais nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Museu de Arte do Rio, Berlin Biennale, Serpentine Gallery, Kunsthalle Wien, Galeria da Boavista e Hangar. É autora do livro Quando o Sol aqui não mais brilhar: a falência da negritude, n-1 Edições, 2022. Foi vencedora do Prémio Pipa e da bolsa ZUM/IMS de Fotografia, ambos em 2021.