Cildo

Meireles

Cildo Meireles

Brasil, 1948

Cildo Meireles (Rio de Janeiro, Brasil, 1948) é um dos maiores expoentes da arte brasileira. Pertencente a uma geração herdeira do movimento neoconcreto (Brasil), foi um dos instigadores da arte conceitual. Desde o fim da década de 1960, o artista desenvolve um trabalho com singular potencialidade para colocar à prova as construções semânticas e ideológicas que permeiam o mundo.

Apesar de ter vivido a adolescência em Brasília em anos atravessados por uma utopia desenvolvimentista, e de ter iniciado a sua prática artística na primeira década da Ditadura Militar brasileira, Cildo Meireles manteve uma distintiva destreza para subverter o político através do poético. Numa característica síntese gestual, o artista apropria-se de e transverte materiais, objetos e situações do quotidiano em trabalhos que congregam a consciência crítica, a visão poética e a ampliação dos sentidos. Nesse movimento cíclico, a presença e a capacidade sensorial e cognitiva são simultaneamente convocadas a «re-conhecer» o mundo, descortinando a sua natureza construída e oferecendo a possibilidade de novas associações entre signos e significantes. A arte enquanto espaço de afirmação da liberdade, onde tudo é passível de transformação e mudança, é um contributo inequívoco da obra de Cildo Meireles.


Um Sanduíche Muito Branco, 1966

Instalação, pão, algodão, prato de cerâmica

Cortesia do artista.

Um Sanduíche Muito Branco (1966) é o primeiro objeto da trajetória de Cildo Meireles. Após despertar de um sonho com um gosto estranho na boca, o artista materializa a insondável origem dessa sensação: entre duas fatias de pão, coloca uma cama de algodão, como o recheio de uma sanduíche. No confronto entre a linguagem, a visualidade e a perceção dos sentidos, tal objeto apresenta-se enquanto um enigma a ser decifrado.

Trazido ao CAPC Sede para ser exposto com outras obras que formam enunciados-síntese das temáticas desta edição da bienal, Um Sanduíche Muito Branco aciona o delírio de teor surrealista e, simultaneamente, introduz ao público o primeiro exemplo da longa prática de criar objetos de Cildo Meireles. Costumeiramente imbuídos de uma carga política, tais objetos tendem a apresentar-se como desafios à razão.

Cildo gallery image

© Jorge das Neves

Cildo Meireles vive no Rio de Janeiro. O seu trabalho já foi exposto em importantes instituições e bienais, nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Tate Modern, Museum of Modern Art, La Biennale di Venezia, dOCUMENTA, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo/do Rio de Janeiro, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Centro Cultural Banco do Brasil, Fundação Serralves, Instituto Inhotim, Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Miami Art Museum, Institut Valencià d’Art Modern e New Museum of Contemporary Art. De entre as exposições retrospetivas e antológicas sobre o seu trabalho, destacam-se: Entrevendo, SESC Pompeia (2019); e as exposições de título homónimo Cildo Meireles, no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia (2013), Fundação Serralves (2013–2014), Tate Modern (2008), The New Museum of Contemporary Art (1999), Museu de Arte Moderna de São Paulo/do Rio de Janeiro (2000).