João

Marçal

João Marçal

Portugal, 1980

Ao situar a pintura enquanto um desafio ótico e uma prática inscrita num pensamento metalinguístico, João Marçal (Coruche, Portugal, 1980) dedica-se ao exercício da compreensão formal do que se pode entender pela sua «vida íntima». Através de um «abstracionismo sentimental», as imagens e experiências visuais do quotidiano, que, de tão triviais, se tornam invisíveis, são descontextualizadas e repensadas pelo artista através de cores, geometrias e repetições.

No seu trabalho, os estofamentos dos autocarros em que viaja, o papel de parede do seu quarto de infância, embalagens de materiais fotográficos quase obsolescentes ou de pacotes antigos de cigarros ganham uma dimensão abstrata através de exercícios formais e pictóricos. Engajado num entendimento histórico e técnico sobre a prática, o artista invoca impressões de luz, repetição de padrões e pixelização de imagens para criar ilusões espaciotemporais dentro da pintura, deslocando-a e desafiando a sua autonomia. Em manifesta determinação, João Marçal persegue um pensamento epistemológico e uma reflexão acerca do lugar que a pintura pode ocupar: as suas possibilidades quase metafísicas, ou a sua potencial existência além da fisicalidade.


A parte dos Anjos, 2024

Som mono, 20'39'' (loop)

Coprodução com: Pedro André (aka Crossfade Memory) e Pedro Augusto.

Cortesia do artista.

20/05/19, 2023

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28/10/22, 2024

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25/03/18, 2024

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15/02/24, 2024

Acrílico sobre linho

Comissionada por esta bienal, A parte dos Anjos, de João Marçal, é uma intervenção no espaço da cisterna do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, composta a partir de pinturas inéditas, estruturas de ferro lacado e uma peça acusmática desenvolvida em parceria com os músicos Pedro André (aka Crossfade Memory) e Pedro Augusto. O título surge a partir da tradução da expressão idiomática que se refere à percentagem de bebida que evapora durante o tempo de maturação do whisky. As presenças fantasmáticas metaforicamente presentes no título permeiam também as pinturas do artista. A performance do pintor, perdida para sempre; as camadas de tinta ocultas nas sobreposições; a impossibilidade de visualizar o detalhe e o todo em simultâneo; o medium que «desaparece» para revelar a obra; a matéria líquida do acrílico que evapora da superfície do quadro para fixar a tinta — são todas essas «lembranças» dos fantasmas da pintura.

O som surge como elemento conciliador que convoca, subtil e poeticamente, essas presenças. As estruturas metálicas, por sua vez, evocam o universo imagético dos transportes públicos e comboios interurbanos, resgatando uma melancolia proporcionada pelas viagens e por esses contextos espaciotemporais. Por fim, A parte dos Anjos apresenta uma segunda série, composta por três pinturas em escala pequena e instalada em salas separadas, que rememora o universo do design das cassetes VHS — como uma espécie de ode gráfica «futurista» à imagem em movimento, que hoje ganha contornos nostálgicos.

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© Jorge das Neves

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João Marçal vive em Lisboa. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação MAAT/EDP, Sismógrafo, Pavilhão Branco, Galeria Graça Brandão, Galeria Nuno Centeno, Galeria Quadrado Azul, Ivaliden1 Galerie e Galeria Municipal da Biblioteca Almeida Garrett. Sob o pseudónimo Marçal dos Campos, João Marçal desenvolveu um projeto de música eletrónica entre 2005 e 2022, pelo qual lançou, em 2021, o LP Heart Frostbite / New Emotion Revisited 2002-2015 e atuou ao vivo no Anozero – Bienal de Coimbra, edição de 2015.