Mauro

Cerqueira

Mauro Cerqueira

Portugal, 1982

No limiar entre a escultura, a instalação, o desenho e a pintura, Mauro Cerqueira (Guimarães, Portugal, 1982) situa uma prática artística tão sensível ao pensamento estético quanto ao crítico. O contemporâneo enquanto catalisador de fraturas no tecido social surge como problemática à qual o seu trabalho reage.

A cidade onde vive, o Porto, os seus espaços periféricos e o seu centro servem, simultaneamente, de assunto e matéria quando o artista trabalha sobre superfícies invulgares, como espelhos ou cartão prensado, a partir de materiais de construção, como areia e piche, e objetos encontrados, como peças de equipamentos eletrónicos e correntes. Nessa expansão do campo da pintura e da escultura, Mauro Cerqueira cria formas matéricas para as presenças fantasmagóricas que habitam as vidas nas cidades. Antes pela chave da abstração que pela da documentação, as transformações e fissuras causadas pela especulação imobiliária, pela precarização das classes proletárias e pela pauperização da vida em geral fazem com que a obra do artista converse numa linguagem que beira o universal.


von Hand zu Hand, 2021

Instalação, materiais e dimensões variáveis

Cortesia do artista e Galeria Nuno Centeno.

A iminência do acidente é uma presença que paira constantemente sobre o trabalho de Mauro Cerqueira. Na instalação von Hand zu Hand, três esculturas compostas por objetos encontrados em lojas de segunda mão formam uma imagem de instabilidade, como uma fotografia que retrata os minutos anteriores a um caótico incidente. Três mãos escultóricas numa escala não-humana: uma delas «segura» um pedaço grande de vidro em frágil equilíbrio, muito próxima de o soltar; a outra toca numa peça tubular que contém água no seu interior, ameaçando derrubá-la ao chão e fazer verter o líquido; a terceira é suspensa por uma corrente metálica presa ao teto, «sobrevoando» uma peça de vidro que romperia com o peso da sua eventual queda. Para a bienal O Fantasma da Liberdade, a instalação originalmente realizada no âmbito da residência artística Los Angeles, em Günsterode, na Alemanha, é trazida para uma das antigas oficinas militares situadas no exterior do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. A cena parece desafiar uma tensão e uma imprevisibilidade formal que convivem com os fantasmas do passado recente deste lugar, e que, na obra de Mauro Cerqueira, estão relacionados com muitas das histórias que assolam o seu imaginário.

Mauro gallery image

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© Jorge das Neves

Mauro Cerqueira vive e trabalha no Porto, cidade onde mantém o projeto de artist-run space Uma Certa Falta de Coerência. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Serralves, Museu Coleção Berardo, Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Sala de Arte Fundación Banco Santander, Centro Federico García Lorca, La Casa Encendida, Museu de Arte Contemporânea de Elvas, Centro de Artes Visuais de Coimbra, Museu de Arte Contemporânea de Vigo, Kunsthalle Lissabon, Galeria Nuno Centeno, Galeria Graça Brandão, Casa Triângulo, Palais Carli e Galeria NoguerasBlanchard.