Patricia Gómez

e María Jesús González

Patricia Gómez e María Jesús González

Espanha, 1978

Desde 2002, Patricia Gómez e María Jesús González (Valência, Espanha, 1978) desenvolvem uma prática artística atravessada pelas relações entre o tempo, o contexto social e histórico e as memórias de espaços outrora habitados, e que emerge a partir de processos de pesquisa, documentação e registo.

Através de um contínuo exercício para desvelar camadas acerca das suas histórias, as artistas trabalham sobre ruínas que ainda carregam em si as marcas de um passado recente: instalações penitenciárias em desuso, centros de detenção para pessoas migrantes desativados, casas desabitadas em consequência de episódios histórico-políticos, ou centros de internamento para estrangeiros fadados à demolição. Ao lidar com aquilo que resta desses lugares, a dupla de artistas constrói arquivos capazes de rememorar a vida e as histórias daqueles que, um dia, os habitaram. Nesse processo, Patricia Gómez e María Jesús acabam por também resgatar o carácter político e ideológico presente neste tipo de espaço. Os seus projetos e intervenções partilham de um sentido arqueológico que, em vez de se lançar em busca de uma reconstrução nostálgica sobre uma experiência vivida, se revela enquanto um caminho de volta às memórias dos acontecimentos marginais à reprodução e à narração dominantes da História.


Seguir siendo. Santa Clara-a-nova, 1677-2024, 2024

Instalação com arranque mural, dimensões variáveis

Cortesia das artistas.

A história do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova está inscrita nas suas paredes. O seu passado ao abrigo da Ordem das Clarissas até à morte da sua última freira, no fim do século XIX, a passagem dos militares até 2006, o hiato de abandono até a primeira bienal o reavivar. A cada edição, o Mosteiro é transformado, inscrevendo novas histórias e marcas sobre as suas superfícies. Ante a incerteza que ameaça o seu futuro, Seguir siendo. Santa Clara-a-nova, 1677-2024 concebe-se enquanto uma intervenção de Patricia Gómez e María Jesús González que parte de arranques murais, nos quais o próprio edifício revela as suas camadas de tempo, como um retábulo abstrato que narra a sua própria história.

O arranque mural é um procedimento que permite às artistas transferir os estratos materiais depositados ao longo do tempo numa parede para um novo suporte (tela), obtendo um registo visual e físico que é, simultaneamente, um testemunho arqueológico e um «documento» em escala real. Trazer esse procedimento para dentro do Mosteiro é também uma maneira de perceber este lugar não apenas como um espaço expositivo, mas também de criação artística — o lugar como assunto e como obra.

Patricia Gómez gallery image

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© Jorge das Neves

Patricia Gómez e María Jesús González vivem em Valência. O seu trabalho tem sido exposto em diversas instituições internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Institut Valencià d’Art Modern, Fundación Botín, Centro de Arte Dos de Mayo, Moore College of Art & Design, Arts Santa Mònica, Es Baluard Museu d’Art Contemporani, La Tabacalera, Centro Cultural de España en México, BombasGens Centre d’Art e Centre del Carme Cultura Contemporànea.