Paula

Siebra

Paula Siebra

Brasil, 1998

No trabalho de Paula Siebra (Fortaleza, Brasil, 1998), objetos da rotina e frequentemente artesanais, como jarros, ex-votos de madeira, utensílios de barro e porcelana, coexistem com retratos de figuras anónimas e paisagens quase desvanecentes. Na sua pintura a óleo e têmpera de ovo, um quotidiano brasileiro que é subtil e silencioso emerge na tela.

Entre a tradição pictórica do Brasil e a proximidade à sua cidade natal, a artista concebe imagens situadas em tempos distantes, da reminiscência e do devaneio. A sobreposição de cores em pinceladas secas simula uma familiaridade com a silicogravura — técnica artesanal de justaposição de camadas de areia colorida para formar imagens (geralmente paisagens) dentro de garrafas de vidro transparente, souvenirs típicos do Nordeste Brasileiro. É também essa sua maneira de pintar que mimetiza um aspeto de poeira, recobrindo o quadro como uma leve bruma de areia, em imagens que parecem habitar os recônditos da memória.


Uma carta (antes do envelope), 2024

Óleo sobre tela

Presilha de cabelo, 2024

Óleo sobre tela

Dois melões numa redoma, 2024

Óleo sobre tela

Cortesia da artista e Galeria Mendes Wood DM.

Característica no trabalho de Paula Siebra, a simbiose dos seus quadros com os espaços expositivos, sejam eles paredes de galerias ou de casas, possivelmente resulta do facto de as imagens que a artista pinta parecerem habitar uma memória coletiva, um espaço a meio caminho entre o quotidiano e um difuso sentido onírico. Ainda que fortemente vinculadas a uma tradição local, elas transmitem, paradoxalmente, um sentido quase universal — talvez porque, em estado de vigília ou nas memórias mais longínquas, os fragmentos ordinários da vida tenham sempre as mesmas cores.

Nesta edição da bienal, Uma carta (antes do envelope), Presilha de cabelo e Dois melões numa redoma ocupam o CAPC Sede como pontuações no espaço. São presenças espectrais que quase convergem com as paredes do lugar, criando um diálogo com a sua história e também com a decisão de o converter num statement curatorial. No conjunto de obras que são enunciados das temáticas exploradas em O Fantasma da Liberdade, as telas de Paula Siebra desempenham um papel conciliador, aproximando as práticas artísticas de cariz sobretudo político àquelas que pairam pela bienal com certa leveza poética.

Paula gallery image

Paula gallery image

Paula gallery image

© Jorge das Neves

Paula Siebra vive em Fortaleza. O seu trabalho tem vindo a ganhar destaque internacional, tendo sido exposto em instituições relevantes, de entre as quais se destacam: Museu Nacional de Belas-Artes, Pivô, Centro Cultural dos Correios, The Perimeter e Mendes Wood DM São Paulo, Bruxelas e Nova Iorque. Em 2023, foi finalista do Arte Laguna Prize. Tem pinturas reproduzidas em diferentes publicações, de entre as quais se destacam: Latin American Artists, 2023, Editora Phaidon, e Great Women Painters, 2022, Editora Phaidon.