Robert
Filliou
Robert Filliou
França, 1926 - 1987
A obra de Robert Filliou (Sauve, França, 1926–Les Eyzies, França, 1987) nasce do rompimento das fronteiras entre a vida e a arte. Ao torná-las indiscerníveis e indissociáveis, o artista criava propostas artísticas intrinsecamente libertárias, materializadas através de assemblages, vídeos, desenhos, performances e trabalhos textuais. No seu cerne, os conceitos de autoria, de aura, do «gosto» artístico e da própria existência da obra de arte eram imaginativamente desafiados.
Robert Filliou formulou algumas propostas prático-teóricas, como o «princípio de equivalência» e a ideia de «criação permanente». No primeiro, um retrato do artista «bem feito» equivaleria a um «mal feito» e também a um «sequer feito»: os três casos seriam válidos, individualmente ou associados. Afirmando o único critério como, justamente, a ausência de critérios, o artista colocava em causa o juízo dogmático das artes. Por sua vez, a ideia de «criação permanente» constituía uma proposição para libertar o pensamento, abster-se da criatividade e da ação, através do enunciado: «o que quer que tenha pensado, pense em outra coisa. O que quer que faça, faça outra coisa. O segredo absoluto da criação permanente é não desejar, não decidir, não escolher, estar autoconsciente, acordado, sentado em silêncio, sem fazer nada».
MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-NOVA
Imitating the Sound of Birds, 1979
Instalação sonora multicanal, 00’55”
Cortesia Espólio Robert Filliou e Galeria Peter Freeman Inc.
Ao longo do corredor do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, os assobios de Robert Filliou acompanham os passos dos visitantes. Como um sussurro fantasmagórico, Imitating the Sound of Birds (1979) dialoga simultaneamente com a história deste espaço, com a biografia do artista e com os fantasmas da liberdade que pairam sobre esta edição da bienal. Trazida para o Mosteiro, a obra espelha o lugar onde Robert Filliou viveu os últimos anos da sua vida, o monastério budista de Chanteloube, em Les Eyzies-de-Tayac-Sireuil, na França.
CAPC CÍRCULO SEDE
Whispered History of Art, 1963
Instalação sonora, stereo, 22’30”
Cortesia Espólio Robert Filliou e Galeria Peter Freeman Inc.
No dia 17 de janeiro de 1963, Robert Filliou proclamou o 1 000 000.° Aniversário da Arte. Em 1974, o artista português Ernesto de Sousa, em colaboração com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, organizou o 1 000 011.° aniversário da arte, no CAPC Sede. No evento, «uma festa de grande sucesso», foi desenhada na parede uma tradução do poema Whispered History of Art, de Robert Filliou.
Nesta edição da bienal, o poema volta a ocupar a casa que abriga a Sede do CAPC. Desta vez, sussurrado pela voz do próprio artista, numa gravação de 1963. De maneira irreverente, Whispered History of Art faz ecoar as décadas de celebração artística e política ocorridas neste espaço — onde, às vésperas do 25 de Abril, houve um festejo tão grande que um momento de samba teve de ser interrompido «porque o tecto da sala de baixo começava a ruir», como contou Ernesto de Sousa numa carta endereçada a Robert Filliou.
Robert Filliou já recebeu exposições retrospetivas e antológicas em diversas instituições de renome, de entre as quais se destacam: Un génie sans talent. (2003), no Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Stiftung Museum Kunstpalast e Lille Métropole Musée d’art moderne, d’art contemporain et d’art brut; e The Secret of Permanent Creation (2016), no Museum of Contemporary Art Antwerp.