Rosemarie Trockel (Schwerte, Alemanha, 1952) é um dos pilares da arte conceitual. A sua obra abrange diversificadas técnicas, como a cerâmica, a escultura, o desenho, a colagem, a fotografia e, principalmente, aquilo que denomina knitted pictures — trabalhos feitos em tricô esticado sobre tela de pintura.

Caracterizado por uma perspicaz crítica social e por estratégias estéticas subversivas, o seu trabalho dialoga simultaneamente com a História da Arte e com algumas ideologias da segunda onda do Movimento Feminista, nomeadamente o lugar da mulher na sociedade e no campo artístico, o questionamento das hierarquias sociais de género e classe e a emancipação como potência criativa. Ao considerar a obra de arte como uma dinâmica relação entre forma e conceito, Rosemarie Trockel opera com expressiva liberdade, assumindo um carácter não-linear e indisciplinado. A reinterpretação do «feminino» ocupa um lugar significativo no seu trabalho, expresso principalmente através da criação de «pinturas» que remetem para os movimentos artísticos historicamente masculinizados através de uma técnica tradicionalmente feminilizada e destinada à esfera doméstica: o tricô.

Napoli, 1994

Vídeo

No princípio, o voo dos estorninhos parece uma dança rigidamente coreografada: os seus pequenos corpos voam, coordenados, em movimentos ondulares, por vezes distanciam-se, e outras vezes aproximam-se. Por trás dessa aparente coreografia, há uma invisível natureza não-hierárquica que determina o seu voo. Curiosamente, a espécie possui um sistema de informação próprio, no qual cada pássaro se concentra e imita os movimentos daqueles que voam mais próximo, sem que exista uma liderança individual que dite os movimentos do bando. O filme Napoli (1994), na sua amplitude de sentidos, inspira a ideia de rutura e a celebração da dança libertária dos estorninhos.