Yonamine

Yonamine

Angola, 1975

O imaginário criado por Yonamine (Luanda, Angola, 1975) é permeado pelas influências culturais dos países onde viveu. A sua infância passada em vários países, desde a República Democrática do Congo, ao Brasil e Portugal, e o regresso a Angola, em 1994, durante a guerra civil, ressurgem no seu trabalho através dos seus diários pessoais. Autodidata, foi na convivência com o meio teatral e com as artes gráficas do seu país natal, durante a adolescência, que Yonamine iniciou o seu trabalho — aproximando-se, mais tarde, da geração de artistas que fundaram a Trienal de Luanda.

Na produção de um vocabulário próprio, o artista relaciona heranças da sua rica autobiografia, um pensamento crítico sobre os processos políticos e históricos que construíram a contemporaneidade, com imagens da cultura popular. Associando uma miríade de objetos encontrados nas suas derivas a pinturas, desenhos, grafítis, vídeos, fotografias, tatuagem e body art, Yonamine constrói instalações de grande escala caracterizadas por uma estética exacerbada e «carnavalesca». Com recurso a um humor e ironia sofisticados, são remexidas as mitologias do campo artístico e do seu statu quo e criticamente repensada a relação entre a Europa e, especificamente, Portugal e o seu passado-presente colonial. Assim, a História da África e da sua diáspora, a migração, os processos políticos e ideológicos de extração, desapropriação e desumanização, a invasão e dominação culturais ocidentais e as formas contemporâneas de colonização (na linguagem, no imaginário popular e em políticas económicas) formalizam um encontro — e são sintetizados na icónica frase: «It’s expensive to be poor.»


MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-NOVA

Sem Título, 2024

Instalação, materiais e dimensões variáveis

Uma recente visita às reservas onde estão conservadas as coleções da Universidade de Coimbra, em especial o espólio de objetos de uso tradicional provenientes de Angola, inspirou Yonamine nesta instalação comissionada pela Bienal. Pilhas de caixas vazias são dispostas de forma que se crie um ambiente artificial que remete para o mal-estar dos arquivos e para o contexto de acumulação de objetos provenientes de África. Essas caixas reorganizam espacialmente a sala do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, numa imbricada relação com a sua arquitetura. E Yonamine justapõe várias outras temporalidades e referências, através do vídeo, da assemblage de objetos, escultura, frases, compondo um bricabraque contínuo e imaginativo com grande capacidade de autocrítica e estranhamento. Com recurso ao humor, desmonta alguns dos mitos e das pretensões da atividade artística e intelectual da contemporaneidade (os cachimbos remetem para tradições angolanas, mas também para Magritte: «ceci n’est pas une pipe [isto não é um cachimbo]», sem deixarem de referenciar trabalhos anteriores de Yonamine relacionados a drogas alucinogénicas).

PÁTIO DAS ESCOLAS

Arapis, 2024

Instalação, materiais e dimensões variáveis

«Inspirado pela visita à ilha de Lesbos que fiz com o artista André Cepeda, em 2021, refleti no destino trágico de milhares de migrantes que tentam atravessar o mar com a esperança de uma vida melhor. Cada bandeira é uma combinação de código marítimo com estrelas da igreja Tokoista fundada em Angola. Esta igreja utiliza habitualmente as estrelas para identificar os naipes do coro nos cultos, correspondendo às vozes como o Baixo, o Soprano, o Alto e o Tenor.

O código marítimo transmite uma mensagem específica às outras embarcações, bem como às pessoas em terra, por exemplo: W – Whiskey: Preciso de assistência médica. Estas mensagens são largamente ignoradas ou não são vistas quando se trata de embarcações que transportam migrantes ilegais que muitas vezes desaparecem no vasto mar. Nesta peça apodero-me do código marítimo para escrever uma expressão pejurativa usada na Grécia para diminuir negros e árabes, que é ARAPIS. A combinação de códigos religiosos e códigos marítimos dá-nos uma leitura esquizográfica.»

Yonamine

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Pátio das Escolas © Jorge das Neves

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Mosteiro de Santa Clara-a-Nova © Jorge das Neves

Yonamine vive em Atenas, Grécia. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Centre Georges Pompidou, Fundação Bienal de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Centro Cultural Banco do Brasil, Fundação Serralves, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Museu Afro Brasil, Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Institut Valencià d’Art Modern, Museu Coleção Berardo, Galeria Municipal do Porto, Centro Internacional de Arte e Cultura de São Tomé, National Center for Contemporary Arts, Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, Jahmek Contemporary Art e Círculo de Artes Plásticas de Coimbra.