Aline Motta

+ Ricardo Aleixo

Aline Motta + Ricardo Aleixo

Brasil,

Aline Motta (Niterói, Brasil, 1974) desorganiza e reorganiza a História Colonial Brasileira a partir de elementos especulativos que surgem de uma extensa pesquisa acerca da sua própria ancestralidade africana. Ao problematizar as mitologias da miscigenação étnico-racial da população do país, a artista constrói ficções e releituras simultaneamente íntimas e coletivas, evidenciando uma violenta herança de apagamento, comum aos povos dos países ex-colónias. Através da escrita, do vídeo, da publicação impressa, da fotografia e da performance, Aline Motta cria a sua poética ao contestar os silêncios perpetuados pela narrativa histórica dominante.

Ricardo Aleixo (Belo Horizonte, Brasil, 1960) compõe a sua lírica a partir da expansão da poesia, em exercícios de «escutar a letra e escrever a voz», como o próprio define. Relacionada com a poesia concreta, a sua escrita contempla a palavra nas suas dimensões verbal, visual e sonora. Alinhando música, performance, radioarte, vídeo e dança, Ricardo Aleixo desafia as categorias artísticas e apresenta o corpo enquanto instrumento da criação poética. A sua prática escrita-performativa-musical perpassa por uma ampla reflexão acerca da construção e da manutenção das relações de poder entranhadas na sociedade brasileira.


Meu Negro, 2021

Vídeo, Cor, 16:9, 7’

Ficha Técnica:

Poema, performance, design sonoro, vozes, ruidagem, mixagem e caligrafia: Ricardo Aleixo; Assistência de design sonoro e tratamento de áudio: Natália Alves; Vocalização improvisada: Zora Santos; Solo de trompete improvisado a partir de tema composto por Ricardo Aleixo: Romulo Alexis; Fotografia: Aline Motta e Fernando Lima; Drone: Fernando Bastos; Edição: Aline Motta; Motion graphics: Marina Quintanilha; Correção de cor: Caetano Brenga Bittencourt

Cortesia dos artistas.

Meu Negro (2021) é um filme de Aline Motta e Ricardo Aleixo. Acompanhado por uma voz que ressoa no ar e declama o poema homónimo de Ricardo Aleixo, um corpo realiza uma performance, uma «corpografia», no topo de um edifício. Ao carregar em si a expressão poética, esse corpo transforma-se, simultaneamente, no seu recetáculo e criador. Do papel, a poesia transporta-se para a voz; da voz, para o corpo; a partir do corpo, a poesia reconstrói-se, não antes de ser ressignificada.

Sobre si, tal corpo carrega um «poemanto» (ou é carregado por ele), em alusão aos parangolés do artista brasileiro Hélio Oiticica. Assim, entre dança e escrita, corpo e palavra, Meu Negro desafia a construção ideológica e histórica das categorias de sujeito e objeto, afirmando a liberdade e o direito à autodeterminação dos povos não-brancos.

Aline Motta gallery image

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© Jorge das Neves

Aline Motta vive em São Paulo, Brasil. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Museum of Modern Art, New Museum, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Tomie Ohtake, Museu de Arte do Rio, Kunstmuseum Wolfsburg e Stanley Museum of Art. Em 2022, publicou o livro A Água é uma Máquina do Tempo, finalista do prémio literário Jabuti.

Ricardo Aleixo vive em Belo Horizonte. É poeta, artista intermédia e investigador em literaturas, outras artes e médias. Conta com dezoito livros publicados. Em 2021, recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais o título de Notório Saber em Letras, equivalente ao grau de doutor. Enquanto artista visual/sonoro e performer, já participou em diversas exposições em instituições internacionais, de entre as quais se destaca a 35.ª Bienal de São Paulo. Conquistou, em 2023, os prémios Mestras e Mestres das Artes e Alceu Amoroso Lima – Poesia e Liberdade, outorgados, respetivamente, pela Funarte/Fundação Nacional de Arte e pela Universidade Candido Mendes/Centro Alceu Amoroso Lima Para a Liberdade.