Carla
Filipe
Carla Filipe
Portugal, 1973
Através de uma prática multidisciplinar, Carla Filipe (Vila Nova da Barquinha, Portugal, 1973) perscruta criticamente a relação entre os objetos de arte, a cultura popular e o ativismo político. Ancorada no desenho e frequentemente habitada pela apropriação de artefactos e documentos históricos, por iconografias revolucionárias, bandeiras, cartazes e grafismos, a sua obra procura compor um retrato que é, simultaneamente, social e subjetivo.
A autobiografia enquanto arquivo experimental da contemporaneidade é uma das estratégias utilizadas pela artista para cerzir o individual ao coletivo. A História, na sua cíclica escrita e reescrita, é um filtro empregado para aprofundar o entendimento das transformações políticas, sociais e culturais que condicionam os tempos passado e presente. Neste contínuo exercício construtivo, o seu trabalho abarca diversas temáticas, desde questões sobre território e identidade, às noções de trabalho e propriedade, até ao conceito de representação.
As esposas e mulheres (mulher anonima) de um corpo político ausente sob uma artificialidade de um corpo presente, 2022
Cinco bandeiras em impressão digital sobre tecido 100% látex
Coleção da artista (Prova de Artista).
Celas VI, 2024
Impressão offset sobre papel de jornal, dimensões variáveis
Coleção da artista.
Em O Fantasma da Liberdade, os grafismos característicos da obra de Carla Filipe ocupam uma das salas do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, fazendo coabitar dois projetos distintos. Celas VI, desenvolvido no âmbito desta bienal, é uma instalação concebida a partir da replicação de imagens dos modelos de grades provenientes da arquitetura conventual que foram adquiridos pela artista. Simbolizando a separação do mundo exterior da clausura, o gradeamento dos conventos permeia metaforicamente a vida das mulheres enclausuradas, regida por uma estrita hierarquia que reflete as suas diferenças de classe.
Numa relação dialógica, As esposas e mulheres (mulher anonima) de um corpo político ausente sob uma artificialidade de um corpo presente, parte de um projeto realizado em 2022, intervém em imagens históricas de protestos e manifestações políticas, substituindo os rostos dos homens por rostos de mulheres. Na instalação composta por bandeiras de grandes dimensões, figuram também as presenças de duas mulheres reconhecidas pela história da luta política em Portugal: Catarina Eufémia, trabalhadora agrícola assassinada pela Guarda Nacional Republicana na sequência de uma greve de assalariadas rurais, em 1954, e Lourdes Pintasilgo, que chefiou o V Governo Constitucional, entre julho de 1979 e janeiro de 1980, sendo a única mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra no país.
Carla Filipe vive no Porto, cidade onde iniciou o seu percurso artístico e foi cofundadora de dois espaços artist-run, o Salão Olímpico e o Projecto Apêndice. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Bienal de São Paulo, Fundação Serralves, Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, Espai d’art Contemporani de Castellón, Fundação MAAT/EDP, SESC Pompeia, Museu Coleção Berardo, Bienal de Istambul e Manifesta 8.