Filipe
Feijão
Filipe Feijão
França, 1975
Filipe Feijão (Sarcelles, França, 1975) desenvolve o seu trabalho nas margens do percurso habitual da maioria dos artistas. A partir de um pensamento e de uma prática de expansão do campo da escultura, os seus projetos assimilam frequentemente a ideia de work in progress — às vezes, percorrendo anos para se materializarem.
Trabalhando de maneira continuada, o artista assume empreitadas que, muitas vezes, funcionam como um prolongamento do seu próprio ateliê nas Caldas da Rainha. Limítrofes entre escultura, espaço de trabalho e instalação, os projetos utópicos de Filipe Feijão são amálgamas de objetos estranhos, artefactos perdidos, elementos orgânicos e inorgânicos em coexistência e simbiose. Como lugares de trânsito entre este e outro mundo, parecem querer executar a difícil tarefa de conciliar corpo e matéria, vida e morte, natureza e cultura.
Estrutura, 2019–2024
Vigamentos de madeira, esculturas de gesso, baldes de plástico com pedras argilosas, alguidar de chapa de zinco com água e sedimentos, mesa com maqueta, tronco de oliveira brava, blocos de pedra calcária e materiais vários
Cortesia do artista.
Ao longo de cinco anos, Filipe Feijão arquitetou, como extensão do seu ateliê, uma «estrutura protomuseológica», composta por uma escadaria como componente central e um variado conjunto de objetos a «habitarem» o seu espaço e entorno. Plantas, catos, ossos de baleia, pedaços e peças de cerâmica, vigas de madeira, pequenos fósseis e uma coleção de elementos curiosos passaram a povoar a escadaria, transformando-a numa escultura viva e em contínua expansão. Nesta obra in progress, coabitam lastros da tradição escultórica ocidental, como a proximidade à linguagem do neoclassicismo, elementos antropomórficos e a ideia de ruína. Paradoxalmente, Estrutura contesta também a ideia da escultura enquanto objeto hermético e impassível à passagem do tempo.
Nesta bienal, a obra passa a ocupar um dos torreões do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Ao longo dos três meses em que a exposição estará patente, Estrutura experimentará as vicissitudes do espaço onde se encontra, sendo organicamente afetada por ele — num movimento que nos virá lembrar da irredutível liberdade contida no gesto artístico.
Filipe Feijão vive nas Caldas da Rainha. O seu trabalho já foi exposto em diferentes instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Zaratan, Centro de Artes de Sines e Galleria Collicaligreggi. Participou em dois projetos coletivos na Galeria Quadrado Azul, A Gruta e Mãos Negativas.