Ilídio

Candja Candja

Ilídio Candja Candja

Moçambique, 1976

Na sua pintura multifacetada, Ilídio Candja Candja (Maputo, Moçambique, 1976) faz reverberar a herança cultural que partilha com aqueles que o precederam. A junção de técnicas — da pintura com tinta acrílica aos grafismos feitos em marcador permanente, ao uso de spray e à assemblage que invoca outros materiais — é transformada em vocabulário próprio, cuja imanente virtude é a expressão da relação do artista com o tema da religiosidade, da ancestralidade, da imigração, da herança oral e da comunicação entre o passado e o presente.

Em simbiótica coexistência, a sua obra é composta por pinturas de grande escala e altares construídos a partir do barro e de objetos de cerâmica. Símbolo e veículo de comunicação entre existências e tempos distantes, o altar surge enquanto reminiscência da ritualidade ligada à terra, enraizada no contexto social no qual o artista cresceu. Pela celebração de sua herança cultural e histórica, Ilídio Candja Candja reinventa as abordagens sobre a experiência do trauma colonial, da imigração e do racismo, estabelecendo diálogos interculturais através de uma prática estética carregada de vozes.


Pregador de Almas, 2024

Instalação, materiais e dimensões variáveis

Cortesia do artista.

Nesta obra comissionada pela bienal O Fantasma da Liberdade, Ilídio Candja Candja constrói dois canais diversos de comunicação com outros planos: a pintura e o altar. Enquanto peça central da instalação, em redor da qual pairam as telas de grande dimensão, o altar surge como maneira de recontar o «regresso a casa» de Saartjie Baartman — mulher de etnia coissãs levada para a Europa, no século XIX, para ser exibida pelo seu biótipo considerado «curioso» na altura. Construída numa das garagens que outrora serviam de oficinas militares, a instalação transforma-se num lugar para o seu eterno descanso.

Ao criar um paralelismo com a história do retorno dos seus restos mortais, da França para a África do Sul, a pedido do então presidente Nelson Mandela, Ilídio Candja Candja também propõe uma alternativa às representações tradicionais à volta da sua figura. Saartjie Baartman foi, inicialmente, levada para Londres, em 1810, para ser exibida publicamente em circos e feiras — o seu corpo foi visto através de uma mórbida curiosidade, retratado pela ótica do racismo colonial, utilizado para justificar teorias do racismo científico, e, após a sua morte, exibido por partes no Museu do Homem, em Paris, até 1974. Complexificando o dualismo «vítima/algoz», o artista incita uma leitura menos estreita sobre a sua história, e, apesar de reconhecer as múltiplas violências implicadas, zela pelo imaginário de resistência que a sua vida suscita.

Ilídio gallery image

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© Jorge das Neves

Ilídio Candja Candja vive no Porto. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Oliewenhuis Art Museum, Casa-Museu Bissaya Barreto, Museo de Arte Moderno de Cartagena, Museu Nacional de Arte de Maputo, Galeria Quadrum, Galeria São Mamede, Johnson Lowe Gallery, Galerie Le Sud, Galerie Frederic Storme, GAFRA Gallery, Galerie Lumieres d' Afrique e Plataforma Revólver.