Paulo
Nazareth
Paulo Nazareth
Brasil,
Artista-errante, Paulo Nazareth (Borun Nak, Vale do Rio Doce, Brasil, nascido faz muito tempo) constrói o seu trabalho através do ato de caminhar. Deste gesto primário, derivam propostas imateriais, performativas e documentais. Pelos caminhos que percorre, o artista cria um arquivo de iconografias relacionadas com os povos colonizados.
A partir da sua própria experiência como vendedor ambulante, o seu trabalho começa com a impressão de panfletos de baixo custo, que eram vendidos, com outros objetos, em mercados na sua cidade natal. Deste ofício, e de outros que realizou ao longo da vida, surge o carácter multidisciplinar da sua obra. Paulo Nazareth envolve o seu próprio corpo na lógica mercantil de circulação de mercadorias e matérias ― a qual, aliada aosprocessos de colonização de territórios indígenas (do passado e do presente), tem ajudado a construir o mundo contemporâneo. Em Notícias da América, uma das suas propostas mais conhecidas, é documentado o percurso que o artista realizou a pé desde a América Latina até aos Estados Unidos, onde chegou para expor na feira Art Basel Miami. Ao longo do caminho, foram registadas ações em que explorava o imaginário do fenótipo dos diversos povos colonizados, incluindo o seu próprio.
Antropologia do negro I, 2014
Vídeoperformance, 6’05”
Antropologia do negro II, 2014
Vídeoperformance, 7’21”
Cortesia do artista e Galeria Mendes Wood DM.
Relacionadas com os temas da errância, da migração e das histórias sobre a colonização, as videoperformances são vertentes primordiais do trabalho de Paulo Nazareth. Nesta edição da bienal, são apresentados dois trabalhos que convocam uma dimensão ritualística. Deitado sobre o chão, Paulo Nazareth tem a sua cabeça lentamente coberta por caveiras de corpos anónimos — num gesto que restitui simbolicamente o direito ao ritual fúnebre àqueles a quem lhes foi negado, de entre os quais está a própria avó do artista, internada compulsoriamente numa instituição psiquiátrica em 1944. Através da linguagem performática, o artista cria maneiras de «carregar» em si aqueles com quem temos dívidas históricas, os «esfarrapados do mundo» (Paulo Freire).
Quando situadas numa sala do CAPC Sede, junto às outras obras que avivam o conceito curatorial desta bienal, as videoperformances de Paulo Nazareth revelam-se capazes de criar um diálogo trans-histórico com a ideia de fantasma proposta pelo filósofo Jacques Derrida, que arrisca que «ser assombrado por um fantasma é ter a memória daquilo que nunca se viveu».
Paulo Nazareth vive e trabalha pelo mundo. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Museum of Modern Art, Centre Georges Pompidou, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Institute for Contemporary Arts, Instituto Tomie Ohtake, Museu de Arte da Pampulha, Institute of Contemporary Art Miami, Museu de Arte do Rio e Hangar. O artista já participou em diferentes bienais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Biennale di Venezia e Sydney Biennial.