Priscila
Fernandes
Priscila Fernandes
Portugal, 1981
Através de uma profícua produção artística que interliga pintura, desenho, instalação, fotografia, vídeo e publicações de livros, Priscila Fernandes (Coimbra, Portugal, 1981) centra o seu trabalho no ato de brincar enquanto um «processo social macro pedagógico edificante». Alicerçada no interesse pelas temáticas da educação, do jogo e das dialéticas entre trabalho e lazer, a sua obra forja relações especulativas e ficcionais com a História da Arte.
No seu trabalho, é frequente o encontro entre a alusão a figuras da tradição pictórica europeia e proposições especulativas sobre a contemporaneidade. Através de uma abordagem que alinha um repertório informado pela História a um carácter ficcional, são propostos questionamentos acerca da relação entre o tempo de produção e o ocioso, e da ideia de liberdade individual e coletiva — especialmente, no contexto da precariedade, da mercantilização do tempo e da ameaça de violência que paira sobre as sociedades contemporâneas.
Quantos cavalos são necessários para trocar uma lâmpada?, 2024
63 desenhos em tinta da china sobre papel aquarela 300 g
Com o apoio da Mondriaan Fonds (NL).
Cortesia da artista.
Nesta obra comissionada pela bienal O Fantasma da Liberdade, com apoio da Mondriaan Fonds (NL), a artista Priscila Fernandes subverte, através de uma linguagem lúdica, símbolos relacionados com a ideia de poder. Em correspondência dialógica com a iconografia ocidental, é a partir da imagem do cavalo e do pedestal que a artista formula uma sátira sobre as estruturas que organizam social e ideologicamente a vida contemporânea (o trabalho, a prisão, a escola, etc). Tradicionalmente relacionados com os imaginários acerca da dominação, do heroísmo, da autoridade e da força ostensiva, os cavalos figurados no trabalho de Priscila Fernandes surgem libertos dessas conotações. São cavalos que, atribuídos a uma condição quase humana, dançam enquanto tocam pandeiro, se banham em fontes caudalosas e imitam fantasmas como as crianças fazem com lençóis. Em suma, exercem um conjunto de atividades que, na realidade humana, fazem parte das privilegiadas horas de lazer (aquelas a que nem todos têm acesso). Como na anedota popularmente conhecida, Quantos cavalos são necessários para trocar uma lâmpada?, aponta para o absurdo da existência e das ordens que a condicionam, para o jogo enquanto espaço de crítica social e para o ócio enquanto momento necessário à vida humana.
Priscila Fernandes vive nos Países Baixos. É diretora da licenciatura de Arte BEAR (Base for Experiment, Art and Research), na ArtEZ University of the Arts, e do ateliê de produção artística Kunstwerk Kolderveen. Priscila Fernandes tem realizado exposições coletivas e individuais em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Fundação Bienal de São Paulo, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Fundació Joan Miró, Reykjavik Art Museum, Stedelijk Museum Bureau Amsterdam, Fundação MAAT/EDP, Fundação Serralves e Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Algumas das suas publicações incluem The Book of Aesthetic Education of the Modern School (2014), The Waterslide of Abstract Art (2022), Idleness’ Owl (2022) e Rusted Armour, Skin of Dreams (2023).