Sandra
Poulson
Sandra Poulson
Angola, 1995
A obra da artista angolana Sandra Poulson (1995) é desenvolvida através de uma abordagem simultaneamente etnográfica, autobiográfica e arqueológica. O tecido enquanto matéria primária e a costura como técnica central possibilitam à artista atravessar diferentes práticas e metodologias de trabalho para refletir no panorama histórico, político, cultural e socioeconómico de Angola, cerzindo nessa trama experiências e memórias próprias.
No seu trabalho, o país é transformado num estudo de caso, dentro do qual é desenvolvida uma análise semiótica dos objetos que permeiam o quotidiano local — como utensílios domésticos, roupas, elementos da arquitetura, de entre outros. Por meio da apropriação, desconstrução e reconstrução simbólica desses objetos, a artista incorpora questões acerca das hierarquias de poder entre geografias, enquanto herança dos processos históricos coloniais, das redes de economias de subsistência angolanas e das transformações políticas e culturais em curso.
Muro, 2022
Instalação de cimento, arame e tecido
Cortesia da artista.
Nesta instalação de Sandra Poulson, é evocado um tipo específico de arquitetura. Elementos centrais do tecido urbano de muitas cidades, de entre as quais Luanda, as habitações «inacabadas», cujas fachadas permanecem sem reboco, são quase sempre sinónimo de economias fragilizadas. Predominantes nas periferias das grandes cidades, essas construções testemunham uma relação clara entre arquitetura, história colonial e globalização.
Reproduzida dentro do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, a instalação gera conflitos no espaço que a circunscreve. Por um lado, ao situar-se numa sala estreita, a sua posição cria um empecilho no fluxo de passagem, obrigando o público a contorná-la antes de continuar o percurso pela exposição. Por outro, torna evidente o carácter dissonante entre o tipo de arquitetura representada em Muro e aquela do Mosteiro, com todas as suas implicações histórico-políticas.
Sandra Poulson vive entre Londres e Luanda. Desde 2017 que o seu trabalho vem ganhando visibilidade, tendo sido exposto em diferentes galerias e feiras de arte, de entre as quais se destacam: Lagos Biennial, Serpentine, South London Gallery, Jahmek Contemporary Art, Hannah Barry Gallery, Galería Travesia Cuatro, Liste Art Fair Basel, ARCO Madrid e FNB Art Joburg. Em 2023, representou o Reino Unido na Biennale Architettura di Venezia, e teve trabalhos comissionados para Bold Tendencies e para Sharjah Architecture Triennial. Em 2021, a artista recebeu o prémio Opening no ARCO Madrid, com a galeria Jahmek Contemporary Art, com o trabalho Hope as a Praxis, e, em 2020, recebeu o Mullen Lowe Nova Awards com An Angolan Archive.