Teresa
Lanceta
Teresa Lanceta
Espanha, 1951
Desde a década de 1970, Teresa Lanceta (Barcelona, Espanha, 1951) dedica a sua prática artística maioritariamente à tecelagem, técnica através da qual constrói instalações em grande escala. Nos contínuos movimentos de repetição e na introspeção hipnótica do tear, uma vivência de um tempo prolongado é criada — na qual as histórias das pessoas que conheceu ao longo dos anos, os conhecimentos transmitidos através das mulheres berberes e certos elementos da sua própria identidade são habilmente cerzidos.
O ofício tradicionalmente feminino e a proximidade de Teresa Lanceta aos povos do Médio Atlas estão impressos na sua obra e situam questões acerca da ancestralidade, das tradições culturais populares, da relação entre género e trabalho e da importância da herança verbal transmitida nas histórias dos povos. Também desafiam a visão eurocêntrica sobre o que é a arte, demonstrando a importância da valorização dos saberes e das técnicas populares. No cerne de seu trabalho, o ato de tecer revela-se uma maneira de comunicar e criar metaforicamente um sentido de universalidade e partilha. Assim, a artista utiliza o tecido, bem como a pintura e a escrita, para construir relações com os outros além do tempo e das fronteiras.
SALA DA CIDADE
El Raval, 2019–2021
Cortesia da artista e 1 Mira Madrid Gallery.
Em 1969, Teresa Lanceta estabeleceu-se no Raval — na altura, um bairro central de Barcelona maioritariamente habitado pelas classes populares, por ciganos e imigrantes de outras regiões do país. Ali permaneceu até 1985, em contacto com a boémia e a cultura flamenca, ao longo de um período marcado pelo fim da ditadura franquista e início da frágil e incompleta transição democrática. Entre 2019 e 2021, a artista resgata o afetuoso imaginário que nutre sobre o bairro do Raval através da produção de telas e textos atravessados pelos anos que ali viveu. Nesta bienal, um conjunto de obras que compõem a série El Raval é apresentado na Sala da Cidade, à procura de estabelecer um diálogo entre momentos históricos que, apesar das divergências nos seus processos de democratização, invocam fantasmas em comum entre Espanha e Portugal — relembrando que parte das problemáticas do presente são ainda reflexos desses momentos.
MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-NOVA
La alfombra española, 2004–2018
Cortesia da artista e 1 Mira Madrid Gallery.
No século XV, principalmente nos territórios de Albacete e Cuenca, uma significativa indústria de confeção de tapetes de inspiração e execução islâmicas manteve-se ativa durante a ocupação cristã. Produzidos artesanalmente, os tapetes eram adquiridos «pelas famílias dos senhores da guerra, que, ao mesmo tempo que expulsavam os povos muçulmanos, lhes compravam esses objetos» — os quais passaram a ilustrar escudos cristãos, revelando a dominação cultural à qual os seus artesãos estavam submetidos.
Sob o título La alfombra española, Teresa Lanceta inicia, em 2004, uma série de trabalhos que resgatam essa passagem histórica. Ampliada em 2018, a partir de um conjunto de desenhos e peças em cerâmica, a série faz ressurgir os motivos ornamentais tradicionalmente figurados nos tapetes do século XV, entre retratos que evocam as figuras das Clarissas da Ordem de Santa Clara (Palência). Esse conjunto de trabalhos evidencia as contradições entre o estrito voto de pobreza e o rico património material mantido pela Ordem. No âmbito desta bienal, uma das salas do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova recebe parte dos trabalhos que compõem La alfombra española, manifestando os fantasmas de um processo histórico que é «testemunho de uma cultura que foi derrotada», mas que, «enquanto durou, brilhou com luz própria».
Teresa Lanceta vive em Mutxamel, Alicante. O seu trabalho já foi exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Fundação Bienal de São Paulo, La Biennale di Venezia, Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Institut Valencià d’Art Modern, Los Angeles County Museum of Art, Cairo Biennale, Bergen Assembly, La Casa Encendida, Azkuna Zentroa, Württembergischer Kunstverein, Fundación Cerezales Antonino y Cinia e Museu Tèxtil i d’Indumentària.